segunda-feira, 29 de junho de 2020

Nem a máscara é contra o prefixo ANTI?

       


                Há  elementos que colocamos antes de uma palavra, eles recebem o nome de prefixo: {ante-}, {hiper-}, {co-}, mas, sem dúvida, o mais usado ultimamente é o prefixo {anti-}, esse prefixo vem do grego e indica ação contrária ou oposição. Vivemos em uma época de bastante dualidade, talvez isso explique encontrarmos tanto esse sufixo, haverá então um zeitgeist linguístico? E qual a regra para uso do sufixo {anti-}, afinal há antirreligioso, antiaéreo e anti-hemorrágico?

                A regra do sufixo {anti-} é até simples, usaremos o hífen se a vogal da palavra que segue o ANTI possui I ou H: anti-horário, anti-inflamatório; se a palavra possui S ou R, basta duplicá-las: antirreligioso, antissemita. Atualmente vemos o {anti-} em antifascista, antirracismo, antidemocracia, anticovid, antirreligioso, anti-homofobia e até na máscara, com a liga antimáscara!!

                Aqui vem o problema: antimáscara ou anti-máscara?

                A palavra antimáscara não possui hífen, afinal não contempla a regra acima, é iniciada por M, logo o certo é sem hífen!! Vale lembrar que o {anti-} em máscara é antigo, já há até lei antimáscara, sobre o uso de máscara em manifestações; porém  é comum as referências a uma liga que surgiu na Espanha no início do século XX com o nome de “liga anti-máscara”, indo de encontro a regra acima, já há até a liga anti-corona! Tal uso fora da regra, torna-se uma seja uma referência histórica ao movimento, afinal também há um correspondente em inglê: anti-mask,  porém  cria a confusão com o prefixo anti, aparentemente tão querido, que até nas máscaras encontramos.

(Ricardo Gomes)


domingo, 28 de junho de 2020

Eustáquio e os Sinônimos Imperfeitos



                    A sinonímia é o nome de um fenômeno linguístico em que uma palavra com semelhança no significado, pode substituir outra, há uma aproximação ou identificação que pode ser perfeita (cara e rosto) ou imperfeita (casa e lar; chamar e clamar). Seu sentido pode ser ocasional e apresentar uma variação regional  (piá, guri, criança) ou entre o uso popular e o erudito (fenecer/morrer).

                Recentemente, com a prisão do repórter Oswaldo Eustáquio, o nome blogueiro foi usado, para atenuar, como um eufemismo (figura de linguagem que abranda o sentido de algo: passou dessa para melhor) abrandar o ato que ocorreu, ou seja, um jornalista sendo preso! Muitos jornais noticiaram como "Blogueiro preso", como uma opção de sinônimo imperfeito, ou para atenuar (eufemismo) os efeitos agressivos do ato, afinal prender jornalistas é algo comum em ditaduras, mas blogueiros, parece menor, assim como dizer casa doce casa, possui um efeito menor que lar doce lar.

                O termo blogueiro é novo na língua, sobretudo para tratar como sinônimo de jornalista, pois se refere a alguém que possui um blog (um bloco de notas eletrônico) onde se posta o que quiser,  não há uma profissão reconhecida, nem sindicato, apesar de ser uma nova forma de free lancer, como exemplo, há blogs de jornalistas famosos, o jornal O Globo  tem uma seção de blogs! Onde encontramos nomes como Merval Pereira. De fato, Eustáquio possui um blog ( desde 2012 sem novidade), mas trabalha para outros jornais, o que não retira sua certificação de jornalista, um jornalista pode ser um blogueiro, mas nem todo blogueiro pode ser jornalista. Atenuar a prisão de um jornalista com esse recurso chega a ser desonesto para qualquer  profissional da área. Esse uso forçado do termo blogueiro, acabou aproximando a profissão de jornalista do ato de ter blog, criando um sinônimo  pejorativo. Uma jornalista foi assaltada quando exercia sua profissão, logo muitos na internet começaram a citar que uma blogueira fora assaltada.

                Se a opção era eufemismo, ou seja, atenuar, foi infeliz, blogueiro ou jornalista, a prisão aconteceu dentro de um inquérito repleto de estranhezas jurídicas; se era para alcunhar, desvalorizar o indivíduo, acabou deixando o termo similar a um sinônimo de jornalista, entretanto como sinônimos perfeitos são raros na língua, criam um precedente para prender jornalistas... mas não é jornalista, é apenas um blogueiro.

(Ricardo Gomes)

quinta-feira, 25 de junho de 2020

Covidão e a Corrupção do Sufixo


 

  A

 Língua é algo criativo, mas essa criatividade não expande os campos já delimitados da gramática, podemos pegar uma palavra fora de nossa Língua e colocar um elemento dela: surf  posso cria "surfão" , esse ÃO adicionado é chamado de sufixo, é um elemento que se junta a outra palavra (radical) para mudar-lhe o sentido. Os sufixo têm sua origem no latim ou no grego. O sufixo {-ão} vêm do latim vulgar  < -anú, esse sufixo indica várias coisas: qualidade, cargo, origem, naturalidade: vilão, capitão, capelão, pagão, vacilão, etc.

             O sufixo {-ão} também indica o aumentativo: caldeirão, covardão,  meninão. Aqui entra a criatividade dos falantes de uma Língua, por exemplo, temos uma viatura de polícia no Rio de Janeiro chamada de caveirão. O que aconteceu nos últimos anos com esse suffixo é interessante, porque esse sufixo, além de aumentativo, começa também a indicar atos de corrupção como petrolão e mensalão, essa moda pegou e agora temos o termo covidão, que faz uma referência aos atos de desvios do dinheiro do Governo Federal que são praticados por Estados e Municípios.

            Esse neologismo ficou interessante, soa melhor que coronão, aqui entra também a questão da eufonia da Língua, porém confunde o radical, afinal o radical é {covid-} e não {cov-} de cova, apesar de existir uma referência a algo que assustou muito as pessoas nessa  época de pandemia, que foi um prefeito chamado Covas abrir várias covas. Outra coisa interessante é que um dos primeiros, talvez o primeiro, a usar o termo foi o presidente do PTB Roberto Jefferson, que foi o primeiro a denunciar o Mensalão. A Polícia Federal já usa o nome e a palavra já é encontrada em vários jornais, assustando alguns políticos. Unir doença e corrupção é algo triste, mas a criatividade da Língua continua bela.

           (Ricardo Gomes)


terça-feira, 23 de junho de 2020

Nos Lábios de Iracema



A Literatura não se encerra em si mesma, talvez falte esse entendimento sobre nossa literatura, talvez por isso estejamos a olvidar o nosso imaginário, nossos mitos, nossos escritores, deixando um espaço aberto para questões que vão além dos braços da arte. Em vez de buscar o que é recorrente, as influências externas, haveria uma estética comum, qual a importância de nossa Literatura para refletir nosso passado, entender nosso presente e buscar nosso futuro?

            O objetivo desse texto é trazer um pouco do imaginário da Literatura Brasileira em seus aspectos tropológicos, linguísticos e morais, deixaremos de lado a Literatura Portuguesa, ficaremos em débito, claro, mas é com eles que ficará a outra perna do Saci, pequenos pulos, cheios de fantasia, influências e rupturas esse será nosso itinerário. Essa revisão critica é importante, sobretudo quando surgem movimentos de revalorização da cultura com critérios que estão além da arte, como se a análise estética de uma pintura, agora, não mais estivesse na pintura e sim na água que o artista usou para lavar o pincel: era pura, era benta, era suja?

            Como dito acima, a arte não se encerra em si mesma, porém não pode ter condicionantes estéticos, ou morais, que estão além de si. A Literatura traz um imaginário com mitos, lendas, alegorias que ressoam em todas as épocas, mas também questões e preconceitos restritos a uma determinada época, não cabe ignorar, ou, até mesmo censurar, julgar com o olhar do politicamento correto, afinal tolerar os erros de nossos antepassados é um exercício de maturidade importante.

            Não é possível falar de Literatura brasileira ignorando o período de colônia, nosso primeiro ponto será justamente esse, o período de nosso defloramento para a civilização européia, início da solidificação de nossa linguagem e de nossos personagens, entre eles o de Iracema, que ocupa um lugar ímpar, nossa vestal que trai sua tribo pelo amor do europeu, remete-nos a opção pela América, já implícita no nome de Iracema.

            Esse ponto de partida não exclui a imitação, ou segundo Frye “cada forma literária tem sua linhagem,e que podemos rastrear sua ascendência até os primórdios” (FRYE: 2017 p.34); esses primórdios, que são compartilhados, iremos apenas perpassar.

            A virgem dos lábios de mel, que carrega o segredo da Jurema, deixará tudo de lado pelo amor a Martim Soares Moreno, guerreiro português, e com ele terá um filho: Moacir, filho da dor. A escolha de Iracema pode ser vista numa perspectiva geopolítica como um dilema entre Iracema x América, a palavra Iracema é um anagrama de América. Esse dilema quem vencerá, a América e com essa vitória o prêmio da  linguagem dos portugueses. Apesar dos esforços de Anchieta em escrever um poema em latim, as ondas vinham lhe informar que o povo daqui não seria dado a declinações.

            Por ser uma sacerdotisa, Iracema não poderia pertencer a ninguém, mais uma vez nos aproximamos da linguagem, a linguagem também não pertence a ninguém; Iracema carrega consigo o segredo da Jurema, quantos segredos de Jurema não se escondem em nossos corações? Entretanto ao se relacionar com o estrangeiro, ela perde seu poder místico. Há aqui um diálogo entre a civilização européia e o Novo Mundo, o romantismo que fez do índio o símbolo de nossa afirmação na arte, o índio deixou de ser o exótico. Nessa história de Iracema vemos a corrupção do gentio, não da mulher em si, mas de toda a floresta, da linguagem, da religião, abrindo-se para o explorador, Martim, apesar do amor por Iracema, sente saudade de sua terra, e essa saudade da Europa que transformará o país em um arquétipo do velho continente, arrasta o coração de Martim para um país de glória, afinal em tão pouco tempo um caminho para as Índias, Brasil conquista de Goa e regiões da África, há do outro lado um império em que ele, Martim, representa na América e aqui...os lábios de Iracema. Lábios em que repousa o segredo da Jurema, essa que foi a inauguradora da miscigenação, entre o silvícola e o citadino, em que ambos se encontram em uma fuga pela floresta, cabe a ela a origem do povo brasileiro, em seu filho Moacir (ou filho da dor) talvez seja esse o segredo de nossa alegria, somos todos filhos da dor.

                        Em Alencar encontramos a musicalidade poética, apesar de ser um romance em prosa, elevamos ao patamar de prosa poética, tal fato não ocorre não apenas em relação aos elementos tropológicos, mas também a própria forma, onde o autor/poeta busca um ritmo, que tanto contribui para o ouvido literário, vejamos o primeiro parágrafo do capítulo V:

            O galo da camPIna ergue a roupa escarLAte fora do ninho. Seu límpido triNAdo anuncia a aproxiMAção do dia.

             Perceba que ao escandir e pontuar a sexta sílaba, há uma semelhança rítmica que se repete.

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            Mas como um texto sobre literatura brasileira começa no Romantismo? Esqueceram os jesuítas? Não, em absoluto, mas convenhamos que São José de Anchieta é mais fictício do que a personagem Iracema, e.g., nosso primeiro autor flutuava e os animais obedeciam a ele! Nossa história literária não deixa muito a desejar perto de obras de Realismo fantástico!

            Os jesuítas, diferente de Iracema não traíram os indígenas, catequizaram, mudaram aspectos de sua cultura, para solidificar a religião católica, cumpriam uma profecia de levar o nome de cristo; Iracema cumpria uma profecia ao defender o segredo da Jurema. Em ambos vemos a linguagem, a linguagem revelada e a linguagem guardada. Enquanto Iracema trai seu povo, os jesuítas defendem seu povo, nas missões, nos escritos, nos dicionários, nos boticários, nas fazendas administradas, na luta contra a escravidão dos silvícolas, revelam uma luta com mortos reais. A linguagem foi substituída paulatinamente, os jesuítas fizeram gramáticas e dicionários, aprenderam as línguas dos indígenas, conservando-as e anotando com os fonemas já herdados do latim, mas o adubo de nossa literatura foi a Língua Portuguesa, a última flor do Lácio que deixou aqui uma semente que construiu uma literatura rica, pouco apreciada dentro do próprio país.

          Anchieta chegou a ser refém dos Tamoios, que na segunda metade do séc XVI ocupavam o litoral norte de SP e tinham uma aproximação com os franceses, deixá-lo refém foi uma decisão de Nóbrega para mostrar que ele voltaria, a intenção de Nóbrega era levar para os portugueses as condições para que a paz se restabelecesse, foi nesse cativeiro que ele escreveu o seu imenso poema De compassione Planctu Virginis in Morte Filii, nas areias da praia de Iperoig; Anchieta estabeleceu uma relação amigável com os indígenas e, segundo Cordeiro ( CORDEIRO: 2016 p.86), "Ao fim das negociações, e como resultado de sua relação amigável com os índios, o missionário acabou sendo escoltado  na volta para São Vicente". 

            Pero Vaz de Caminha dá nosso atestado de batismo para a Língua Portuguesa, Iracema procria, mas, como dizem que pai é quem cria, coube aos jesuítas a nossa educação, porque os colégios eram a única fonte e irradiação cultural em nosso incipiente solo, isso nos trará rebentos ainda no século XVI, neles se educam. segundo Sodré, Bento Teixeira, Frei Vicente Salvador, Antônio Vieira e Gregório de Matos (SODRÉ: 1964 p.78), continua o autor com alguns autores do séc XVIII: Basílio da Gama, Santa Rita Durão e Alvarenga Peixoto. A lista de pessoas que passaram pelas escolas os jesuítas na Europa também é grande, segundo Franca (FRANCA: 2019 p.52) Tasso, Vico, Molière, Bossuet, Montesquieu e até Voltaire, que talvez carregue alguns traumas da palmatória.

            Anchieta trouxe-nos a medida velha da tradição medieval, além e iniciar o teatro com autos que se destinavam "a edificação o índio e do branco em certas cerimônias litúrgicas" (BOSI: 1975 p.23), como poeta usou da símile, com uma preocupação pedagógica, usou de uma linguagem simples, em motes, por meio  dos personagens bíblicos, poemas que hoje, apesar de religiosos, soam pueris, mas tentam ser palpáveis, abrangentes, como nosso período sensório-motor, usando uma símile a epistemologia genética de Piaget.

            Anchieta, ou São José de Anchieta, entrou na Companhia de Jesus com 17 anos, veio para o Brasil a fim de se curar de fortes dores ocasionada por uma escada que lhe atingiu as costas, porém as histórias do Santo são as mais incríveis, certa vez caiu em um rio, os índios tentaram procurar, até que indo ao fundo do rio encontraram Anchieta recitando seu breviário no fundo do mar. Chegou a impedir um ritual de antropofagia, os animais o obedeciam e não raro flutuava.

            Iracema, nossa vestal, Anchieta, nosso santo, falta algo que podemos encontra justamente em Gregório de Matos (1623 - 1696), alcunhado de “o boca do inferno”! Em Gregório de Matos temos o homem dividido do barroco, se em Anchieta e Iracema, podemos apontar diferenças substanciais entre corpo e alma, entre o amor ou a tribo, entre esconder a Jurema ou revelar Cristo, em Gregório de Matos, nosso autor mais significativo no Brasil colônia, vemos uma obra ampla entre o satírico, lírico, burlesco, erótico e sacro.  Obra que ora critica fidalgos "caramurus", ora elogia uma mulher, ora está no genuflexório pedindo o perdão dos pecados. Uma síntese que atravessará séculos, e se enraizará em nossa nação, afinal somos um país religioso, mas também país do carnaval e também o país da corrupção.

            A linguagem poética já é nosso português com a influência e até quase plágio, ou spoiler  de Góngora e Quevedo. Enquanto em Iracema temos o amor à Europa, em Anchieta a apresentação de uma religião, de uma forma de vida que nas missões tentarão por em prática; em Gregório temos o reconhecimento dos abusos e do isolamento do homem brasileiro, inclusive entre os que deveriam representar e respeitá-lo, vejamos esses versos recolhidos de Veríssimo (1969 p.65)

Que os brasileiros são bestas

E estarão a trabalhar

Toda a vida por manterem

Maganos de Portugal.

           

            Substituam "Maganos de Portugal" por políticos em Brasília e veremos que a coisa não mudou muito. Retomar nossa literatura, nosso imaginário é um exercício de reflexão sobre o nosso presente, Gregório de Matos usava modelos estrangeiros em sua poesia, mas seus personagens eram os nossos: padres, freiras, militares, funcionários do governo (capitanias) nossos jovens, hoje, possuem esses modelos brasileiros e outros mais, o que faltaria? O eterno revelar da Literatura, revisitar e trazer nossos estudantes, mostrar aos neófitos, que são modelos necessários, que perpassam a nossa árvore genealógico/Literária, 34 infelizmente se usarmos a literatura em um sentido lato, tudo é literatura, deixamos de lado exemplos essenciais de nosso imaginário, discursos geradores importantes.  Não abandonemos os lábios de mel de Iracema.                             

 (Ricardo Gomes Pereira)

 

Referências:

ALENCAR, José: Iracema São Paulo Ed. Conducta

BOSI, Alfredo: História Concisa da Literatura Brasileira 2.ª ed. São Paulo: Ed. Cultrix 1975.

CORDEIRO, Tiago:  A grande aventura dos jesuítas no Brasil 1.ª ed. São Paulo: Planeta, 2016

FRANCA, Leonel, S.J.: O método pedagógico dos jesuítas – O Ratio Studiorum. Campinas, SP: Kírion, 2019.

FRYE, Northrop: A Imaginação Educada trad.: Adriel Teixeira – Campinas,SP: Vide Editorial, 2017.

SAINTE-FOY, Charles: São José de Anchieta: o apóstolo do Brasil trad.: Armando Alexandre dos Santos. São Paulo: Petrus, 2014.

SODRE, Nelson Werneck: História da Literatura Brasileira 4.ªed. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1964.

VERÍSSIMO, José: História da Literatura Brasileira 5.ª ed.  Rio de Janeiro: Ed. Livraria José Olympio Editora, 1969

 

 

Foto: Estátua de Iracema em Fortaleza CE

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Weintraub, STF e o julgamento da coesão


 

            A coesão é importante na transição de ideias, sobretudo em períodos longos, ela contribui para que o leitor consiga encaixar os elementos que estão no período, ou parágrafo.  Há um grupo de pronomes que ajuda muita na coesão: este, esse, aquele. Essa galera é chamada também de pronomes demonstrativos. Esses pronomes possuem a capacidade de determinar localizações de tempo, espaço e no próprio contexto, essa última é a que importa aqui.

            Usamos os pronomes esse, essa, isso, para  demonstrar algo que já foi anteriormente expresso, segue um exemplo retirado da Gramática Essencial de Sacconi:

           

          

                 Canetas, lápis e gizes, foram essas as mercadorias que chegaram.

           

            Fica claro que o pronome "essas" retoma o que foi dito anteriormente, por isso  a concordância no plural e feminino, pois bem, já temos o suficiente sobre o pronome demonstrativo e seu valor na coesão textual , agora vamos analisar a fala do ministro da Educação Abrahan Weintraub, vejamos a fala do ministro:

"Eu percebo que tem muita gente com agenda própria. Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando pelo STF"

            Temos o pronome demonstrativo com valor textual ( esses) a quem eles fazem  referência:  muita gente com agenda própria.  Depois ele usa um verbo no gerúndio: começando.  Bom, a mídia começou a acusar o ministro, e até o STF exigiu explicações. Vejam esse exemplo: Temos que prender mentirosos, botar esses vagabundos na cadeia, começando pelos que tem a letra R. Meu nome começa com R, senti-me ofendido, não, afinal se não sou mentiroso não me enquadro no conceito de vagabundo. O mesmo não ocorre com o STF, vejamos a substituição do pronome:

            “Eu, por mim, botava quem tem agenda própria na cadeia, começando por quem tem agenda própria no STF.”

            O que se percebe, com o referente explícito, é que, se há ofensa, há agenda própria.


quinta-feira, 4 de junho de 2020

Chinês ou não chinês, eis o vírus




    Com o surgimento da epidemia do Sars-Codiv-2, é esse o nome dele, tivemos um tsunami de nomes, aparentemente sinônimos: Corona vírus, Covid-19 e vírus chinês; esse último, entretanto causou problemas, mesmo com referentes históricos de nomear vírus por região como tivemos com a gripe espanhola, a ditadura chinesa reclamou do nome, logo não podemos usar, será?
Bom, os jornais e revistas não usam o termo, o termo em si. O problema, ou imbróglio, surge em uma reunião com vários países que usavam o termo batizado pela OMS, ou seja, Covid-19, já o EUA usava o termo vírus chinês ou vírus de Whuan, afinal é o local de origem do Sars-Covid-2, seria como uma homenagem à progenitora, continuemos.
O argumento de que soa ofensivo, ou pode prejudicar os imigrantes não é muito eficaz, se observarmos a questão de nomes e nomenclaturas históricas, há até mesmo na bíblia temos as pragas do Egito, por exemplo, quão adorável não é visitar hoje o Egito e lembrar que estamos em um local em que houve tantas pragas? A Peste de Atena, tivemos até com nome e imperadores: Peste de Antônio e Peste de Justiniano, além, é claro da gripe espanhola e Gripe de Hog Kong. 
O adjetivo chinês é muito usado, temos, por exemplo o frango chinês e até uma música de Raul Seixa: O Conto do Sábio Chinês. Seu uso no termo vírus chinês, entretanto possui  um opção política implícita pela fama de alguns dos emissores como Trump e no Brasil um dos filhos do presidente, Eduardo Bolsonaro, além de reclamações da ditadura chinesa, no caso o embaixador da China no Brasil, quanto ao uso do termo chinês, depois de tal debate o termo ganhou uma conotação política, ou seja, é usado por quem apoia o atual governo.
    Nós que não estamos em uma ditadura do pensamento, podemos então usar como sinônimo o termo vírus chinês para Sars-Covid-2, nome do vírus e não da doença, e os outros termos como coronavírus e Covid-19 para a doença causada pelo vírus, afinal ainda não entrou em uso o termo "doença da china".
(Ricardo Gomes Pereira)