quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Nintendo Switch e os Nomes Proibidos

 


Há muitas barreiras no mundo, mas não para o politicamente correto, dessa vez foi o mundo dos games. Em jogos é comum usar um nickname ( pseudônimo, ou alcunha ), isso tende a realçar a experiência do jogador e pode gerar "brincadeiras", pois bem, a nova atualização do nintendo switch bane algumas palavras como KKK ( referência a Ku Klux Klan grupo terrorista do séc XIX que perseguia negros), Nazi ( referência ao Partido Nacional Socialista dos trabalhadores alemães), de fato, há razões históricas para não brincar com  tais nomes, porém há nomes atuais também, por exemplo, acab ( uma sigla, usada pelo movimento black live Matter que significa todos os policiais são bastardos - all cops are bstard), até aí, tudo bem,  porém, esses banimento podem se adensar,  uma palavra como covid, também foi banida e  a Riot Games baniu a palavra corona no jogo  league of legends!!!

                Essa última prejudicou o jogador do league of legends, incrível, mas um jogador de nome João Corona não conseguiu colocar seu nome, afinal é uma das palavras banidas, apesar de a palavra corona já existir em línguas românicas, chegamos à estação da gramática histórica! O jogador Corona reclamou, mas não foi atendido. A palavra é do grego e veio até nós pelo latim: corōna,æ; além de estar no sobrenome do João, essa palavra também é nome de uma cidade da Califórnia e existe até uma Santa com esse nome na Igreja Católica Romana: Santa Corona ( martirizada no séc. II).

                Razões históricas são plausíveis, porém há  o cuidado com palavras que parecem contemporâneas, mas possuem  raízes em outras línguas, linguística comparada, por enquanto é torcer para que as mudanças dos nomes de usuários fique restrita a um João Crown.

(Ricardo Gomes Pereira)

 

Fontes:

 

KOTAKU : Nintendo Switch Bans Nicknames Like ‘ACAB’, ‘Nazi’, And ‘Covid’ In Latest Update

https://kotaku.com/nintendo-switch-bans-nicknames-like-acab-nazi-and-cov-1845064719 acesso em 23/092020

 

KOTAKU: Riot Tries To Force League Of Legends Player Named Corona To Change His Username https://kotaku.com/riot-tries-to-force-league-of-legends-player-named-coro-1842889237 acesso em 22/09/2020


sábado, 19 de setembro de 2020

Linguagem Neutra e Ideologia Ativa

 


                    A questão de que a linguagem contém elementos de classe social, ou opressão patriarcal, ou raça, ou gênero, normalmente, causa discussões e, não raro, surgem algumas soluções equivocadas. A proposta de linguagem neutra tenta resolver parte desse problema, mexendo, sobretudo, em substantivos, adjetivos e pronomes, que são as classes de palavras que nomeiam ou revelam acidentes dos seres em geral, as questões sintáticas não levarei em consideração aqui.

                O nome linguagem neutra ou linguagem neutra de gênero, ganha adeptos e até escolas chegam a usar, o que revela a necessidade de ouvir e entender seus princípios, entender os questionamentos sobre linguagem não binária. Sabemos que a gramática normativa trata das normas de uma língua, já a linguagem pode ter variações, daí usarmos os termos linguagem formal e informal. As soluções que surgem, ou hipóteses, não raro possuem uma ideologia enraizada e precisam exercer uma pressão social nos falantes, para se adaptarem a certas regras criadas, assim apesar de buscar neutralidade, há opção ideológica e ignoram que o preconceito não é algo restrito a palavra em si, e sim as intenções do falante, uma pessoa preconceituosa não deixará de o ser, apenas por usar um sufixo diferente.

                Já na origem de nossa Língua, o latim, havia nomes neutros, inclusive havia declinações para masculino e feminino, na primeira declinação do latim predominam nomes femininos, mas também há alguns masculinos, como nauta,ae ; já na segunda declinação, predominam nomes masculinos. Lembremos de que no latim não havia artigo, a Língua Portuguesa substitui as declinações e usa o suporte dos artigos, quando se mexe em uma Língua, devem-se levar em conta muitos fatores, que vão além do ele, ela e elu. Além disso, a língua possui uma unidade na variedade, como expressa Celso Cunha (CUNHA: 1981 p.73) onde a linguagem expressa o indivíduo por seu caráter criativo, mas expressa também o ambiente social e nacional, por sua repetição e aceitação.

                A Linguagem neutra de gênero procura assim criar uma taxonomia para nomes, que serão repetidos e ensinados nas escolas, logo teremos meninos, meninas e menines, a opção pelo sufixo {-e} como fator de neutralidade pode ser funcional em algumas palavras, porém não é uma regra fixa de que os sufixos {-a} e {-o} indicam somente masculino e feminino, os substantivos possuem um conjunto de uniformes que são comuns de dois gêneros, sobrecomuns e epicenos. Vejamos os comuns de dois gêneros, o que faz a sua mudança é o artigo: o jovem, a jovem, logo, teríamos "jovene?" os sobrecomuns possuem um só gênero, a vítima, a criança, apesar da terminação em {-a}; finalmente os epicenos, nomes de animais, possuem uma só forma: sardinha, tatu, crocodilo, etc. Daí podemos entender como a Língua Portuguesa usa os artigos, para evitar as declinações do latim, logo não adianta mudar o sufixo e não mexer no artigo, ou simplesmente usar um artigo {ê} ou {ês}: Vi ê menine com ês colegues, ressaltemos que os artigos também indeterminam os seres, não apenas indicam gênero.

                No caso dos adjetivos também segue o mesmo bonde, muitos são comuns de dois gêneros: feliz, triste, alerta, estudante, etc. No caso dos pronomes há um aumento substancial com a terminação em {-u} ou {-e} delu, elu, aquelu, mesme, sue, pouque, algumes, nenhumes, etc. Essas variações não são muito funcionais e ampliam consideravelmente o campo classificatório, gerando eufonia, cacofonia e confusão, o que pode ir de encontro ao que se deseja. M. Bakhtin (BAKHTIN: 2010 p294) dividia as palavras em três aspectos: como palavra da língua neutra, como palavra alheia e como minha palavra, logo é o papel da experiência discursiva individual que gera o preconceito e não a palavra em si, isolada, ou seja, mudar a forma do discurso, não significa mudar o discurso.

                Resumindo: I- A língua possui neutralidade, a intenção dos interlocutores que gera o preconceito; II - a terminação não é o fator que caracteriza o gênero e sim o artigo; III - gênero gramatical é diferente de gênero musical ou gênero literário em que há vários, ampliar pode gerar mais confusão e cacofonia; IV - dificultará a linguagem e a comunicação com mais flexões e particípios: alune, aluninhes ou  O aluno estava cansado, A aluna estava cansada e alune estava cansade e V – a língua possui saídas em seu próprio sistema para retirar esse caráter binário.

                Sobre o último ponto, a melhor opção, haverá o uso da própria gramática, o entendimento da metalinguagem (infelizmente houve um paulatino afastamento do estudo gramatical nas escolas) assim haveria como deixar o uso menos “binário”, com menos marcas de gênero! E.g.:

 

Os alunos conversaram com o diretor da escola. 

ou

Discentes conversaram com a autoridade escolar.

 

                Vale ressaltar que as questões como eufonia serão deixadas para as próximas gerações e que o uso dessa linguagem também necessita da aprovação do interlocutor, ou seja, como a pessoa quer ser tratada, o que não retira do enunciador o suporte ideológico, os indivíduos adequariam seus discursos, mas continuariam ou aumentariam seu preconceito, sobre essa questão do discurso social ressalta Fiorin: Seu dizer é a reprodução inconsciente do dizer e seu grupo social. Não é livre para dizer, mas coagido a dizer o que seu grupo diz (FIORIN: 2000 p.42). Essa busca de harmonia comunicativa é algo plausível, porém há o cuidado em exigir neutralidade apenas para se adequar aos próprios princípios ideológicos, ou “identitários”, quem manipula as palavras quer manipular o mundo.

 

(Ricardo Gomes Pereira)

 

Referências Bibliográficas:

 

BAKHTIN, Mikhail: Estética da criação verbal trad. Paulo Bezerra. 5.ª ed. São Paulo: Editora Martins Fontes, 2010.

CUNHA, Celso: Língua Portuguesa e realidade brasileira. Col. Temas de todos os tempos vol.13 8ª ed. Rio de Janeiro ed. Tempo Brasileiro, 1981.

FARACO, Carlos Emílio & MOURA, Francisco Marto de: Gramática 3.ª ed. São Paulo Ed. Ática: 1988. 

LAU, Diego Hélinton: O USO DA LINGUAGEM NEUTRA COMO VISIBILIDADE E INCLUSÃO PARA PESSOAS TRANS NÃO-BINÁRIAS NA LÍNGUA PORTUGUESA: A VOZ “DEL@S” OU “DELXS”? NÃO! A VOZ “DELUS”! Simpósio Internacional em Educação Sexual, 2017 Universidade Federal do Paraná.  Disponível em  http://www.sies.uem.br/trabalhos/2017/3112.pdf acesso em 19/09/2020.

FIORIN, José Luiz: Linguagem e Ideologia  7.ª ed. São Paulo Ed. Ática: 2000

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Pseudônimo e Anonimato "Sleeping" Arcadismo

 



Recentemente, um grupo que tem por objetivo assediar empresas causou um constrangimento à rede social twitter, afinal esse grupo intitulado sleeping giants, acusa empresas e pessoas e tenta convencer outras empresas a não fazerem anúncios em suas redes.  O  sleeping giants usa do anonimato, porém suas críticas beiram a difamação. O pedido de identificar o dono da conta trouxe o dilema sobre a privacidade, afinal, há a questão do pseudônimo, muito comum nessa rede social, o que criaria um precedente jurídico para outras contas, afinal, a defesa relata que não há crime. A constituição de 88 proíbe o anonimato, porém não o pseudônimo; em nossa literatura, tivemos uma época em que o pseudônimo era regra, foi uma característica de uma escola literária intitulada de Arcadismo, mesmo assim houve um autor que usou do anonimato para criticar o então governador. Conhecer um pouco do Arcadismo, talvez nos ajude a perceber esse meio de ação:

                O nome, arcadismo, é uma referência à Arcádia grega, região do Olímpo, habitada por pastores e controlada pelo  deus Pan, esse poetas tinham em comum uma poesia voltada para a natureza, uma poesia bucólica e pastoril, época em que a cultura dos jesuítas começa a ceder lugar a influência do movimento iluminista francês. Os poetas usavam pseudônimos, como uma espécie de fingimento poético, Glauceste Satúrnino e Dirceu são pseudônimos dos poetas Claudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Esse último também escreveu poemas satíricos, que circularam em Vila Rica, um pouco antes da Inconfidência Mineira, Tomás Antônio Gonzaga também escreveu um texto de censura ao então governador  de Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes, o poeta usa do anonimato , onde Critilo, no Chile, correponde-se com Doroteu, em Madri; retirando a referência direta ao Brasil; nesse caso, o uso do anonimato se faz necessário, afinal como sabemos a Inconfidência acabou deixando os dentes e tirando a vida de Tiradentes! O texto é escrito em versos decassílabos, vejamos um exemplo do poeta:

Ah! Tu, piedade santa, agora, agora,
Os teus ouvidos tapa e fecha os olhos,
Ou foge de uma terra, aonde um Nero,
Aonde os seus sequazes, cada dia
Para o pranto te dão motivos novos.
( GONZAGA:2002)

 

                A diferença nesse uso do anonimato ocorre e é notória, pois no poeta árcade, temos um receio, um contexto político de poderes grandes, há uma denúncias, apelidos, sátiras, esse texto será semente que culminará na Incofidência, já no caso do sleeping giants, percebe-se uma perseguição pessoal, ameaçam empresas, ameaçam pessoas, ameaçam consumidores, usam da difamação, usam do sofisma: propaganda em programa é diferente de patrocínio de programa. Não temos uma ausência de fanfarrões Minésios, alcunha dada ao governador de Minas pelo poeta árcade, realmente temos alguns fanfarrões do dinheiro público, talvez o que não temos mais são poetas capazes de fazer a sua denúncia com arte e não picuinhas.

(Ricardo Gomes Pereira)

Referências:

GONZAGA, Tomáz Antônio: Marília de Dirceu e Cartas Chilenas – São Paulo: Martim Claret, 2002.

NICOLA, José de: Literatura Brasileira – São Paulo: Ed. Scipione, 1990.


segunda-feira, 7 de setembro de 2020

Hino Nacional em Prosa e Direto


 

            O Hino Nacional Brasileiro é sem dúvida um belo exemplo estético, com seu sabor culto, composto por Osório Duque Estrada, poeta parnasiano, movimento que prezava pela forma e linguagem rebuscada, e com música de Francisco Manuel da Silva, música que  veio bem antes da letra.  A letra carrega a influência da poesia da época, entre romântico e parnasiano, fugindo do lusitanismo, além disso, possui um apego pelo que chamamos de hipérbato, ou seja,  uma inversão da ordem sintática direta, a ordem direta, que é a mais comum, consiste em Sujeito + Verbo + Predicado, porém podemos mudá-la, não se trata de algo fixo, essa mudança quando não afeta muito o entendimento é chamada de hipérbato, se for exagerada e afetar o entendimento, aí teremos a sínquise.

                A seguir há o hino nacional em ordem direta e também em prosa (parágrafos em vez de versos), o que facilitará o entendimento de certos trechos do hino.

                                                                           I

                As margens plácidas do Ipiranga ouviram o brado retumbante de um povo heróico e nesse instante, no céu da pátria,  o sol da liberdade brilhou  em raios fúlgidos.  Se conseguimos conquistar com braço forte o penhor dessa igualdade em teu seio, ó liberdade, o nosso peito desafia  a própria morte. Pátria amada, idolatrada, salve! Salve!

                Brasil, se em teu formoso céu risonho e límpido resplandece a imagem do cruzeiro, desce a terra um sonho intenso, um raio vívido de amor e de esperança. Gigante pela própria natureza, és belo, és forte, impávido colosso e o teu futuro espelha essa grandeza. Terra adorada, entre mil outras, és tu Brasil, ó pátria amada! És mãe gentil dos filhos deste solo, pátria amada Brasil.

                                                                             II

                Ó Brasil, florão da América, eternamente deitado em berço esplêndido,  iluminado ao sol do novo mundo, fulguras  ao som do mar e à luz do céu profundo. Teus lindos campos risonhos têm mais flores do que a terra mais garrida; “Nossos bosques tem mais vida”, “nossa vida” no teu seio “mais amores” Ó pátria amada, idolatrada,  salve! Salve!

                Brasil, o lábaro estrelado que ostentas seja símbolo de amor eterno e o verde-ouro desta flâmula diga: Paz no futuro e glória no  passado. Mas, se ergues da justiça a clava forte, verás que um filho teu  não foge à luta, nem a própria morte teme, quem te adora. Terra adorada. Entre mil outras és tu Brasil, ó pátria amada! És mãe gentil dos filhos deste solo, pátria amada, Brasil.

 (Ricardo Gomes Pereira)