sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Pseudônimo e Anonimato "Sleeping" Arcadismo

 



Recentemente, um grupo que tem por objetivo assediar empresas causou um constrangimento à rede social twitter, afinal esse grupo intitulado sleeping giants, acusa empresas e pessoas e tenta convencer outras empresas a não fazerem anúncios em suas redes.  O  sleeping giants usa do anonimato, porém suas críticas beiram a difamação. O pedido de identificar o dono da conta trouxe o dilema sobre a privacidade, afinal, há a questão do pseudônimo, muito comum nessa rede social, o que criaria um precedente jurídico para outras contas, afinal, a defesa relata que não há crime. A constituição de 88 proíbe o anonimato, porém não o pseudônimo; em nossa literatura, tivemos uma época em que o pseudônimo era regra, foi uma característica de uma escola literária intitulada de Arcadismo, mesmo assim houve um autor que usou do anonimato para criticar o então governador. Conhecer um pouco do Arcadismo, talvez nos ajude a perceber esse meio de ação:

                O nome, arcadismo, é uma referência à Arcádia grega, região do Olímpo, habitada por pastores e controlada pelo  deus Pan, esse poetas tinham em comum uma poesia voltada para a natureza, uma poesia bucólica e pastoril, época em que a cultura dos jesuítas começa a ceder lugar a influência do movimento iluminista francês. Os poetas usavam pseudônimos, como uma espécie de fingimento poético, Glauceste Satúrnino e Dirceu são pseudônimos dos poetas Claudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga. Esse último também escreveu poemas satíricos, que circularam em Vila Rica, um pouco antes da Inconfidência Mineira, Tomás Antônio Gonzaga também escreveu um texto de censura ao então governador  de Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes, o poeta usa do anonimato , onde Critilo, no Chile, correponde-se com Doroteu, em Madri; retirando a referência direta ao Brasil; nesse caso, o uso do anonimato se faz necessário, afinal como sabemos a Inconfidência acabou deixando os dentes e tirando a vida de Tiradentes! O texto é escrito em versos decassílabos, vejamos um exemplo do poeta:

Ah! Tu, piedade santa, agora, agora,
Os teus ouvidos tapa e fecha os olhos,
Ou foge de uma terra, aonde um Nero,
Aonde os seus sequazes, cada dia
Para o pranto te dão motivos novos.
( GONZAGA:2002)

 

                A diferença nesse uso do anonimato ocorre e é notória, pois no poeta árcade, temos um receio, um contexto político de poderes grandes, há uma denúncias, apelidos, sátiras, esse texto será semente que culminará na Incofidência, já no caso do sleeping giants, percebe-se uma perseguição pessoal, ameaçam empresas, ameaçam pessoas, ameaçam consumidores, usam da difamação, usam do sofisma: propaganda em programa é diferente de patrocínio de programa. Não temos uma ausência de fanfarrões Minésios, alcunha dada ao governador de Minas pelo poeta árcade, realmente temos alguns fanfarrões do dinheiro público, talvez o que não temos mais são poetas capazes de fazer a sua denúncia com arte e não picuinhas.

(Ricardo Gomes Pereira)

Referências:

GONZAGA, Tomáz Antônio: Marília de Dirceu e Cartas Chilenas – São Paulo: Martim Claret, 2002.

NICOLA, José de: Literatura Brasileira – São Paulo: Ed. Scipione, 1990.


Nenhum comentário:

Postar um comentário