terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Tratamento Precoce e Tratamento Imediato (o Sinônimo Permitido)

 

Os sinônimos não são  perfeitos, por mais semelhantes, carregam diferenças semânticas (sentido) e morfológicas (origem e estrutura), porém, atualmente vemos que alguns termos, aparentemente sinônimos, possuem uma diferença sobre a origem do discurso. Um exemplo são os termos para o tratamento do vírus chinês, onde temos tratamento precoce e, agora, tratamento imediato.

                Pesquisando no “Google” (23/02) o termo tratamento imediato, temos como primeiro resultado um informativo da cidade de Laguna (RS): Sulfato de Hidroxicloroquina: de 12 em 12 horas (primeiro dia). Do segundo ao quinto dia: 1 vez ao dia, associado à Azitromicina (500 mg), uma vez ao dia, durante cinco dias e Oseltamivir (75 mg) de 12/12/horas, durante 5 dias. Já quando colocamos o termo tratamento precoce não temos qual o tratamento e sim várias notícias sobre ilusão do tratamento precoce, porém, o tratamento em si, é idêntico!!

                O mesmo ocorre quando a busca é por imagens no Google, para tratamento imediato, várias fotos com remédio, médico, o anúncio da prefeitura de Laguna; já quando escrevemos tratamento precoce, vemos enganoso, sinais negativos, interrogações, imagens de  Bolsonaro, enfim, uma mudança substancial, como se fossem tratamentos distintos.

                Assim chegamos aos sinônimos proibidos. Diferente do eufemismo, quando atenuamos um termo: passou dessa para melhor, em vez de morreu. O termo tratamento precoce cria uma referência discursiva com o presidente J.M.Bolsonaro, uma referência positiva, algo impensável para alguns setores de comunicação, que preferem adotar outros nomes, a fim de que não exista uma referência positiva ligada ao presidente da república! Mesmo que para isso a busca de informação seja prejudicada.

                (Ricardo Gomes Pereira)


quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

A Hipérbole Volta às Aulas

 


A hipérbole é uma figura de pensamento que consiste no exagero proposital de uma expressão, para ressaltar a ideia dessa, criando um apelo dramático, daí o adjetivo hiperbólico para os que exageram. Bastante usada na poesia, nos discursos do cotidiano e na publicidade: “Vou morrer de tanto estudar”, “sua última chance nessa vida de comprar essa TV”, um exemplo na poesia, no heterônimo de Fernando Pessoa: Álvaro de Campos:

Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

            Essa figura também é muito usada em argumentação, a fim de exagerar a mensagem, causa um impacto, porém, ela também pode apenas anunciar um exagero de descontentes, por exemplo, a PEC (Projeto de Emenda Constitucional) 241 foi alcunhado de PEC do fim do mundo, ela foi aprovada em 2016, bom até agora o mundo está aí! Outro exagero é impor o predicativo de genocida aos governantes, ou, agora no contexto de volta às aulas quem é a favor a volta às aulas está contra a vida!!

            Temos aí um exagero, ofensiva a vida, contra a vida? Há argumentos melhores contra o retorno das aulas, assim como há argumentos favoráveis, porém a hipérbole prejudica o debate, vamos além, prejudica a busca de um consenso, mais além, lembra o garoto da história que gritava contra um lobo inexistente, até que apareceu um verdadeiro e ninguém o socorreu.

(Ricardo Gomes Pereira)