quinta-feira, 8 de outubro de 2020

O Radical e a Perseguição: Cristofobia, Misocristia...



Em um recente discurso na ONU, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, usou o termo cristofobia, referindo-se à perseguição aos cristãos em vários países; o termo é pouco usado, mas revela algo que ocorre atualmente e historicamente com o nome de Cristo.

            Os substantivos nomeiam os seres reais, imaginários, objetos e sentimentos humanos, para isso, eles possuem um elemento em sua estrutura, nomeado radical, esse elemento sofre poucas alterações e contribui para uma economia lingüística, contribui para aumentar o léxico, contribui para o entendimento de um texto, por exemplo, se alguém ler a palavra chamusco, pode até não saber que se trata de um odor de chama, mas conseguirá, relacionar com a palavra chama (sem relacionar com o verbo chamar), por causa do radical e dos afixos (elementos que colocamos junto ao radical).

            As palavras com o tempo recebem muitos afixos, isso contribui para sua atualidade, sabemos também que o uso das palavras é como um espelho autoritário que reflete o espírito de uma época (zeitgeist), reflete a cultura, reflete o interior dos falantes. Isso gera uma busca em mudar termos, há pouco tempo, um termo como macho, tinha uma carga positiva, porém com as criticas ao machismo, perdeu essa carga positiva.

            Vejamos o que ocorre com o radical de Cristo {Crist-}; desde o início do cristianismo existe uma perseguição, o martírio dos apóstolos, a perseguição aos cristão em Roma (CESARÉIA: 2019), governos contra o cristianismo, lutas religiosas, proibição de culto, etc. Atualmente, esses fenômenos continuam e os termos vão se acumulando: anticristianismo, anticristão, cristofobia, cristianofobia, misocristia, guerra cristera, etc. Acumulam-se sufixos ao radical, porém esses sufixos refletem uma perseguição aos que acreditam e seguem os preceitos de Cristo. Assim temos por um lado, palavras que são atenuadas, por outro percebemos que há uma certa denúncia sobre o espírito da época e o uso das palavras, ou a negação de certas palavras, revelando a aceitação do poder das palavras.

(Ricardo Gomes Pereira)

 

Referências

 

CESARÉIA, Eusébio: História Eclesiástica trad.: Wolfgang Fischer São Paulo: Fonte Editorial, 2019.

 

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