quarta-feira, 19 de agosto de 2020

O Vocativo e o “Snowclone” na Globo News

 



        O Vocativo é um termo acessório que serve para pôr em evidência o ser a quem nos dirigimos: Amai, amigos! Ele possui vírgula e não mantém nenhuma relação sintática com outro temor, por exemplo, em Amai, amigos! Não posso dizer que meninos é o sujeito da oração, o mesmo ocorre em Amigos, peçam paciência a Deus.  Nesse casso amigos é o vocativo. Recentemente aconteceu uma confusão com o vocativo envolvendo um jornalista da Globo News, quando usou a expressão: é o pobre, estúpidos.

                Na linguagem escrita é fácil reconhecer a intenção de um vocativo, afinal há vírgula, na oralidade temos o tom da voz (tessitura) e podemos usar gestos, pois bem, para muitos o jornalista Octávio Guedes, ao comentar o bom desempenho do presidente Bolsonaro em uma pesquisa no nordeste, acabou por ofender o povo nordestino, ao usar a sentença é o pobre, estúpidos, no momento em que justificava o aumento de votos do governo nessa região. De fato, a ausência de vírgulas e atentar para tonalidade de voz é algo complicado, porém o jornalista faz uma referência a um determinado bordão da língua inglesa (bordão: sentença repetida sempre)  e comum em comentários de economia, em um fenômeno chamado de “snowclone” um neologismo que começa a circular e faz referência a esse tipo de construção em inglês: It`s the economy, stupid; que é um exemplo de gerador do discurso do jornalista, uma referência a uma sentença do marqueteiro político James Carville, usado na eleição de Clinton (EUA - 1992).

                Em português temos exemplos de snowclone é semelhante ao que chamamos de ditado, bordão, jargão ou clichê jornalístico, vejamos um exemplo imaginário com o Inês já é morta:

                -  Vamos embora, agora, Inês já é morta.

                - Você vai ao enterro dela?

                Esse é o problema desse tipo de construção, exige do interlocutor o conhecimento do ditado e saber que ele pode ser aplicado em vários contextos, nesse caso um deles não sabia dessa referência literária a Inês de Castro decapitada no séc. XIV; daí o termo snowclone, há várias palavras para descrever a neve, assim se faz um clone da neve. O jornalista fazia uma referência comum, porém para o público amplo, o vocativo acabou virando um adjetivo, ou adjunto adnominal, não era a intenção de Octávio Guedes ofender nordestinos, mas, um dia da caça.....

( Ricardo Gomes)


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