segunda-feira, 9 de novembro de 2020

De “mulher” para “pessoa com vagina”, Quando a Metonímia Substitui o Ser

 

A metonímia é uma figura de linguagem bastante conhecida, por exemplo, quando pedimos uma xícara de café, café trata-se do conteúdo, do conteúdo que está na xícara, assim temos uma troca entre o continente e conteúdo. É uma figura de linguagem elegante, que conta com o conhecimento do ouvinte/leitor. A metonímia pode ser usada em várias situações: autor pela obra, marca pelo produto, parte pelo todo, exemplos: dormi com Cecília Meireles, comprei um Iphone, chegou o narigudo.

                A metonímia é usada para identificar pessoas, até aí nenhum problema, por exemplo, hoje acordei mais cedo que o padeiro, onde a profissão substitui a pessoa, mas será que o órgão sexual, poderia ser um definidor da pessoa? Há uma matéria que trata de câncer de colo do útero, logo, o público alvo imediato é quem tem útero, e quem tem útero são mulheres, mas o termo mulheres soa ofensivo!? A folha publicou uma matéria sobre higiene íntima feminina, ora, trata-se de mulher, mas o termo mulher soa ofensivo. O argumento é que ser mulher não é um fator biológico, não se resume aos cromossomos XX, ter útero, menstruar, ter glândulas mamárias, não, para alguns o termo mulher refere-se a uma preferência pela feminilidade, logo não é algo fechado, um homem pode ser mulher. Não se trata de uma simples metonímia que tende a tornar a linguagem mais atrativa, mas sim de uma metonímia que vem para substituir o todo, a parte substitui o todo, o órgão sexual define a pessoa, a metonímia substitui o ser. A figura de linguagem sai da estética e entra na ética. A passagem da conotação para denotação não é tão fácil e gera conflitos.

                 A escritora J.K. Rowling foi questionada ao satirizar o termo: pessoas que menstruam, porém essa nova definição causa desconforto, afinal há elementos que são do mundo feminino que devem ser tratados com relevância, coisas como TPM, licença maternidade, horário de amamentação, não são compartilhadas por opção, merecem atenção em separado.  O ser humano vai além de reduções sexuais, poucos substituiriam: minha mãe foi uma grande mulher, por minha mãe foi uma grande pessoa com vagina!! O livro mulheres apaixonadas (D.H. Lawrence) viraria pessoas com vagina apaixonadas; A mulher de 30 anos (Balzac) viraria a pessoa com vagina de 30 anos!! Lembremos que o termo também já possui o equivalente: homens com pênis! E assim caminha a humanidade, ou, logo, logo teremos que dizer: e assim caminham as pessoas que têm cu.

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