quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Voto Impresso ou Voto Auditável

 


Alegações de fraude nos EUA, suspeitas de fraudes na Venezuela, a democracia pode ser fraudada? A necessidade de verificar votos é cada vez mais imperiosa. Uma alternativa, sugerida pelo  excelentíssimo presidente Jair Bolsonaro, é usar o  voto impresso, onde a pessoa vota na urna eletrônica, recebe um comprovante e coloca o comprovante em uma urna física, assim os votos podem, posteriormente, passar por uma auditoria. Aqui entra o problema linguístico, em 2015 houve uma Ação Direta de inconstitucionalidade (ADI) que votada em 2018 decidiu que não se deve usar o recurso do voto impresso, assim usar o nome voto impresso, não seria um erro?  Muitos usam o termo voto auditável, como escolher um termo? Acho que a semântica chegou, acabo de ouvir a campainha.

                Não raro o nome de um objeto confunde-se com noções anteriores do mesmo objeto, além disso, há políticos que usam da semântica (sentido das palavras) para confundir, um exemplo ocorrera quando se debatia o projeto Escola Sem Partido de Miguel Nagib que era apenas uma síntese de leis já existentes, mas que transformaram em algo que proibiria debates e pluralidade de idéias. O nome não se reduz a uma questão de marketing, mas também de peroração (onde o nome resume a totalidade da idéia), isso é importante para convencer a população e evitar sofismas.

                Analisando os dois adjetivos mais usuais:  impresso e auditável, é perceptível que há diferenças, sobretudo quando se imagina um púbica alvo lato, com pouca formação, ou formação anoréxica, um público ainda cativo de discursos na grande imprensa, o nome voto impresso, causa uma certa nostalgia e até insegurança, um ministro do STF chegou a dizer que “voto impresso seria um retrocesso é como comprar um vídeocassete” (G1 06/11); percebe-se que o nome “voto impresso” tende a ser de fácil refutação, quando não há compreensão. Já o termo voto auditável, por sua vez, acaba sendo erudito em demasia, o que traz algumas vantagens, entender o nome acompanha o entendimento do que ele sugere no contexto específico, porém a virtude do nome também é seu problema, por ser um termo mais erudito, pouco comum, acaba sendo difícil atingir a população, sobretudo sem o apoio da grande imprensa, que hoje, é quem consegue manipular aquilo que Maingueneau chama de os discursos constituintes (discursos constituintes são formas de expressão e termos que tendem a ser copiados, antigamente eram escritores que realizam tal tipo de discurso, revelando os modelos da boa expressão, atualmente, cabe a grande imprensa ). Um nome diferente para voto impresso, indica uma melhor saída, há alternativas como voto verificado, voto confiável, ou até mesmo voto duplicado, o mais importante, agora, talvez seja compreender que a luta política não prescinde da luta lingüística.

 

 

 

G1 Presidente do STF diz que “voto impresso seria um retrocesso” in: https://g1.globo.com/es/espirito-santo/noticia/2020/11/06/presidente-do-tse-barroso-diz-que-voto-impresso-seria-retrocesso.ghtml acesso em 10/12

 

MAINGUENEAU: Dominique: Discursos constituintes trad. Anail Sobral. São Paulo: contexto, 2006.


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